sexta-feira, março 10, 2006

"encontro nupcial de nuvens" - in memorian

papai morreu.
o chamava de verme-mor, o punk-budista pos-moderno.
cagava pras convensoes e nem pensava no significado de ir ao montana grill com camisa rasgada.
no enterro ao ver aquele pedaco de carne podre dentro do caixao comecei a rir e pensar que se ele estivesse em algum lugar naquele momento estaria rindo pra caralho da nossa cara com o violao na mao e fumando um mega baseado.
ele queria ser cremado, e ao jogar as cinzas dele no rio preto em visconde de mauá queria que eu e meus amigos acendêssemos um baseadão para a despedida - esse era o testamento definitivo. os testamentos alternativos eram: ele queria que eu cheirasse suas cinzas, ele dizia que daria mó onda (pó[de] viciado); ou então queria que eu fumasse o pó. enfim, ele não pôde ser cremado e lá fomos nós para aquele ritual fúnebre patético de enterrar pedaços de carne e deixá-los à degustação dos vermes. putz, que ritual bizarro!
sempre quando ligava pra casa dele e ninguem atendia eu já achava que tinha chegado a hora, mas não, era sempre alarme falso. dessa vez estávamos eu e renata na ilha grande quando acordei no dia de ir embora (sexta-feira) e ela me falou: "sonhei que seu pai tinha morrido e você não quis me contar". eu falei rindo: "vai ver que morreu mesmo". no sabado a noite liguei pra casa dele e ninguem atendeu. "lógico né gabriel, defuntos além do filme ghost não atendem telefones....". e eu na segunda indo pro trabalho fiquei pensando: "sempre desejei a morte do meu pai, será que se ele morrer vou me sentir culpado?". só quem conviveu com ele sabe o porque deu desejar a morte dele - não sou um cara mal .... (pelo menos eu acho que não).
enfim, antônio morreu. não se sabe ao certo o dia nem a hora - quem se importa com um alcólatra e viciadinho de pó na emergência de um hospital? não chorei, tremi trimiliques intensos. se eu fumasse ainda teria fumado 50000000000000000 cigarros. liguei para todas as pessoas que já tiveram alguma ligação com ele e estavam na minha lista de contatos do celular.
para todos eu falava: "VERME-MOR MORREU" ou "O GRANDE VERME MORREU"
e todos: "ÓHHHHH." bla bla bla
voltando da taquara de ônibus o que mais me emocionou foi pensar que eu nunca mais escutaria as músicas dele. ele sempre me falava "pô gabriel, vocÊ tem que aprender minha músicas ... e se eu morrer?" é pai, vc morreu e as músicas se foram. sei todas as melodias aqui na minha cabeça mas ....
é, foi barra.
depois do enterro, bebemos um engradado de cerveja no plebeu em botafogo e na cabeceira da mesa deixamos um cigarro aceso e um copo cheio, "garçon, não mecha nesse copo, é o copo do antônio!" disse o alexandre. rimos e contamos as historias que lembravamos dele e que eram as mais engracadas. acho que ele ficaria feliz com um enterro desses, muito mais do que choros e melancolias ...
ontem a noite antes de dormir ele estava aqui em casa. ficou me azucrinando e rindo deu ficar assustado com a presença dele. pedi pra ele não fazer aquilo pq eu estava ficando com medo e queria dormir. pedi pra ele ir pra luz e nao ficar aqui zanzando na terra. "o que vc quer aqui mermão! vai descansar! eu te amo! mas vai nessa!" ele parou e acordei hoje de manha com a luz do abajur acesa.....

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