quinta-feira, maio 11, 2006

Manhã

Tudo é tristeza. Amar é aceitar a dor. Reconhecer a própria solidão. O boteco é a igreja pós-moderna e a cachaça é o ópio do povo. É o altar que me faz lembrar de coisas há muito esquecidas ou perdidas. Tanto faz. O café com cigarro e açucar estão em perfeita sintonia com o tom de tristeza da manhã. A triste alegria do trabalhador enche o silêncio de tanto barulho que não consigo mais ouvir a Marisa Monte falar sobre o amor. Sei o quanto é triste a vida pelo olhar do motorista apressado para chegar em algum lugar que não seja este em que ele está. O mendigo dorme no berço cristão da sarjeta enquanto a vida mostra toda a sua tristeza, da qual ele não pode escolher fugir. Ninguém pode. Despistá-la talvez, ou fingir que não existe. Mas por detrás de tudo o que se pensa e o que se sente, ela permanece sentada. É só pelo caminho da tristeza que se entra verdadeiramente na vida. Até quando você vai ignorá-la?

Nenhum comentário: