quarta-feira, janeiro 04, 2006

Deus

Sou o mergulhador das profundezas, o cristo bastardo que pensa poder salvar a todos com sua arrogância esquizofrênica. Sou o pangaré encostado num canto da praça. Sou o olhar, não o observador. Sou a consciência iluminada e transparente. Vivo nos abismos da mente, nas fendas do pensamento. Sou o furo no sistema contaminado. Sou a doença genética dos filósofos e pensadores, a depressão dos solitários e ateus, o câncer de espírito, sou a misericórdia e a moral Kantiana, o grito dos miseráveis e nazistas, a bondade dos torturadores e assassinos, o terror e o desespero do instante eterno em que se percebe a presença da eternidade, o espanto do filósofo, o crucifixo na escuridão, o hesitar diante do rito de desmembramento do ego, a inconsolável certeza de quem sabe que nunca irá morrer. Sou o tédio insuportável da história atemporal, a agonia da impossibilidade do nada, o vazio de superficialidades, o surto de concentração involuntário diante do presente, o desejo incontrolável de matar, o momento preciso antes de desmaiar, a não-escolha em para sempre amar, a incomparável experiência de se doar, o murro na faca do pecar, o gosto de sangue ao gozar, o ritual fúnebre de ganhar. Sou a tentação permanente em fazer o bem. Sou a morte do ego e a existência de vazios criadores de mundo. Sou um torturador de egos com pensamentos de abandono.

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