quinta-feira, setembro 29, 2005

nuvens de concreto

um dia cinza, amanheceu quente e com sol e foi perdendo a cor durante o dia. entre as nuvens dá para enxergar o azul pálido turqueza dos céus. no pão de açucar vejo chuva caindo e aqui na varanda do amarelinho não - que nem quando vemos o estranho fenômeno dentro do apartamento de alguém: em uma janela estar chuvendo e do outro lado não. na praça da cinelândia sentado perto da banca de jornal tomei um picolé observando garotos com camera na mão entrevistando uma moça no banco da praça: fiquei curioso para saber quem era. mas quando ela se levantou vi que uma amiga a estava esperando no banco ao lado e se levantou também, percebi então pelos trejeitos das duas que ela era apenas uma moça comum. acabei com o picolé e quando estava indo pagar vi que na banca estava vendendo o livro "uivo" do allen ginsberg daquela maravilhosa coleção da lp&m e quase o comprei mas preferi economizar dindim; até porque não estou com saco de ficar lendo textos da geração beat no momento - eu já me basto. olhei para o prédio aonde eu trabalho e pensei: nada. respirei fundo e fui andando olhando para as pedras portuguesas no chão e desviando dos pombos. um deles até deu um rasante meio bruce lee ao meu lado e me lembrei de um dia que em um desses rasantes um me deu uma patada na testa. entrei pela porta do prédio e, como todo dia, repetiu-se a rotina: sou recebido pelos porteiros do predio com o mesmo cumprimento que eu próprio instaurei e dissiminei entre eles no prédio: "e aÊÊÊÊmmmmmm...". agora cá estou eu sentado em frente a esse computador e escrevendo pra ver se o tempo passa mais depressa - como às segunda-feiras torcemos para chegar logo o final de semana e como no começo do mês assim que acabamos de receber o salário queremos logo que o mês passe rápido para recebermos o próximo salário - e assim vai: dormi com 24 anos e acordei com 28. invento brincadeiras durante o dia: fico olhando para o teclado desfocando os olhos até que consigo trepar as teclas umas em cima das outras criando um efeito tridimencional, ou então pego a parte de baixo do guarda-sol e com uma fita durex prendo um chicote que tem aqui na empresa com os dizeres impressos "produtividade" e com esse extensor de chicote levo diretamente até a baia ao lado no ouvido do meu gerente e falo: "lig lig lig", ou então vou ao banheiro e fico uivando e fazendo caretas em frente ao espelho, ou então fecho os olhos e tento conseguir escutar todos os sons que estão a minha volta: o som das teclas do meu teclado, o som da cadeira de bambu rangendo lá na sala de reunião, o som dos apitos dos guardas lá embaixo, o som dos freios dos ônibus, um som longínquo quase nulo de algum instrumento de sopro - será que vem do teatro municipal? ou então de alguma sala de aula de música? o sinal abriu - todos os carros arrancaram e estão .... o toque dos sinos da câmara dos deputados acabou de tocar prendendo toda minha atenção e matando todos os outros sons... o ranger da porta aqui da varanda e o vento batendo suave. e aqui dentro da sala: um silêncio mórbido - aonde todas as cabeças estão dentro dessas telas mechendo com essas sopas de letrinhas. acorrentados as cadeiras, afogando sonhos, dilacerando as vontades... aí, o sangue insano dentro de mim urge! sinto vontade de pegar os monitores e jogá-los pela janela! sinto vontade de tirar a roupa fazer uma fogueira e dançar em volta dela correndo nu pela sala balançando meu piru para todos verem e berrar!! urrar!! e pedir socorro!! pedir para virem os bombeiros me salvar!! um remedinho por favor, me vê um aldolzinho, pode ser? para sossegado dormir por três dias seguidos numa cama de hospital...
uah!! bocejo gostoso. aonde estou? num país longínquo? numa estrela brilhante? quem são essas coisas a minha volta? coração batendo rápido. meu desejo se realizou? o novo bateu a minha porta? o azul do céu agora está rosa bebê. estou num deserto azul turqueza completamente nu. o chão, se é que posso chamar de chão, é todo com a consistência de borracha pellikan. posso pular em cima e me esborrachar no chão. estou em uma planície e ao longe vejo uma elevação que parece ser uma montanha. corro saltando na borracha - ah acabei de descobrir: aqui a força de gravidade é mais baixa que a da terra, estou dando saltos de mais de 2 metros de altura leve como uma pluma. corro como em todos os sonhos sempre corri - sem conseguir sair do lugar e com passos largos como um astronauta na lua. preciso me infurnar nesse mundo? ah o telefone tocou e a voz do meu chefe... estou entre os dois mundos... ahhh..... a planicie de borracha pelikkan me chama novamente: minha fuga! minha salvação! corro corro completamente nu e livre - sem fome e sem cáries! aqui posso fazer fotossíntese e não evacuo! meus excrementos são auto-aproveitaveis! minha pele mudou de cor - está de uma cor que nem eu conheço ... mas parece o que ai na terra vocês chamariam de vinho... mas não é vinho ... pq vinho é aí, aqui é, é, ah é essa cor aqui que parece vinho. meus cabelos estão duros como metal. minhas unhas parecem garras. corri até chegar perto da tal montanha e lá estava um navio. um navio?????? o que esse navio está fazendo aqui? poderia ser qualquer coisa mas o que essa nau portuguesa está fazendo aqui???? que saco! minhas referências da terra me perseguem até aqui!!! que saco!!! mas fazer o que? vou até lá procurar o que tem dentro dessa nau portuguesa. ela está encostada perto da elevação que parece com as montanhas do arizona na california - ah! são as montanhas do desenho do bip-bip e do coiote! minha infância! e então subo no navio por aquelas cordas presas na frente. e nas paredes da elevação montanhosa vejo argolas pretas iguais a câmaras de ar de pneus de carros de diversos tamanhos presos por ganchos de açougueiro. eu não exitei e saltei em uma das argolas e zuonnnnnnnnnn ionnnnnnnnnnnng. que nem desenho animado fui até os céus e meus olhos esbugalhados ficaram em frente a camera grande angular com o navio em enquadramento perfeito a esquerda da imagem e eu segurando na câmara esperando a volta e o impacto suave nas borrachas. nooooosssssaaaa!!!!! bung jumpy no mundo da borracha pelican e naus portuguesas e minha nova forma não humana quase extraterrestre ausente de ânus e aparelho digestivo! uau! vou experimentar mais um pouco essas novas sensações e vou saltitando pelo deserto como um lunático saltimbanco trapalhão. toing toing toing. gás muito gás. não é noite nem de dia. nem frio nem quente. e mais toing toing por ai. parei. e comecei a perceber tão logo que no fundo eu não quero estar aqui nesse lugar fantástico e sozinho assim. quero mais é voltar praquele mundo de onde vim e onde sim, existe a dor e o amor! quero cair e me esburrachar no chão e sangrar. e depois vir uma mão delicada e me fazer curativos nos joelhos e dizer que me ama me dando beijos no pescoço.
nada de seringas com remédios e camas de hospital com morfeu de enfermeiro. cá estou de novo em frente ao computador e agora já anoiteceu e estou só aqui no trabalho. não chove mais e o som dos carros, do avião, dos apitos dos guardas e dos freios dos ônibus continuam ad eternum. a badalada do sineiro das nove horas! trancarei as portas das varandas, descerei pelo elevador, falarei o último "eaêÊÊÊÊÊmmmmmmmmm" para os porteiros, andarei pelas pedras portuguesas até o ponto de ônibus e dentro das janelas dos ônibus observarei as pessoas - todas - que passam pelas ruas e estão indo pra casa ou estão no belmont tomando um chopp ou então indo trabalhar agora nessa madrugada a dentro sob névoas até o amanhecer gelado. e eu adormecerei grato por ter hoje, mais uma vez, vencido a angústia que é viver e ter me deixado ver as maravilhas e sutilezas que nos fazem seguir - simples assim - andando e topando e chorando e sofrendo e rindo e bebendo e acariciando e odiando e matando e brincando e amando: eternamente aqui e agora!

4 comentários:

Anônimo disse...

Pôrra Gabriel,estou apressado e vou ler depois.Cê tá querendp escrever um romance tipo Thomas Man?Essa pôrra é enorme,puta que o pariu!!!!!

Anônimo disse...

"se não tivesse o sofrer
se não tivesse o chorar
melhor era tudo se acabar"
Vinícius de Moraes
acabei lendo
substituindo o citador oficial,cito

Mike Ribera disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Mike Ribera disse...

Foda o texto, chão de borracha Pelikan deve ser uma parada boa demais heeheh