quarta-feira, setembro 21, 2005

mágica

queria escrever luz! que da tela do computador saltassem letras tridimensionais e como abelhas estivessem prontas a me dar o mel. queria entrar pelos fios e navegar pelos tubos de fibra ótica, atravessar os oceanos até chegar a índia! queria que ao escrever me transformasse. transformasse o mundo! mas não como o tocador de flautas pronto a levar os ratos pra dentro do rio... queria o mais puro deleite! contemplar as nuvens e sentir arrepios na nuca! sentir os ventos passar por dentro de mim e beber águas dos rios... nadar nu por entre as ondas do mar e brincar com os plânctons numa noite de luar! depois, correr, correr pela praia urrando e tentando me esquecer do que sou e me lembrar do que já fui... mesmo que isso não tenha importância alguma... queria sim amar loucamente despreocupado... e fodam-se as contas a pagar - de volta ao lugar-comum. sim! sonho com liberdade! liberdade material e espiritual! poder chegar na rua e sentar ao lado de uma pessoa em um banco na cinelândia e poder dar bom-dia e perguntar se o tempo vai virar sem ao menos a pessoa sair de perto com os olhos arregalados de medo de tantas coisas... e que tantas coisas criamos! e que tantos medos temos! suspiro com os olhos fechados e só me vem a cabeça a enseada de botafogo com o pão de açucar ao fundo - deja vu eterno! as vagas e barcos a pescar pela baía, anzóis ao lado do MAM - hélio oiticia, seus parangolés e o samba! que século passamos! e queria tanto andar de mãos dadas pelo aterro... e dizer besteiras e comer algodão doce! simples assim. mas nada me é impossível. tenho o gosto pelo infinito! salto e vou pendurado pelos bondinhos de santa tereza até o bar do mineiro comer aquela feijoada e rir com o jeito baiano trio elétrico de jorge salomão. vou até a casa da mariana poppoff e ouço o yuri tocando com a lena horta e sua flauta mântrica maravilhosa. corro pelos trilhos até ir tomar um banho naquela ducha nas paineiras... e ver o sol nascer sobre niterói a iluminar a pedra da gávea... vejo aqui de cima as ilhas cagarras! e o jóquei e a lagoa rodrigo de freitas e o cristo de braços abertos a dar boas vindas para o Sol! Escorrego do mirante e caio bem na cachoeira dos primatas... me sinto um índio tomando banho na cachoeira completamente nu e rezando e olhando para as árvores e fazendo Yoga com o som das águas, do mato e de tiros da favela próximo ao clube do macaco no Horto - para incrementar ainda mais a poesia! Corro de volta pela trilha, respirando terra e voando por sobre as árvores e dou de cara com policiais parados ao largo me dando dura e perguntando o que estou fazendo ali a essa hora e querendo achar algo que não existe - procurando sarna pra se coçar! e deixam seus pacotes do Bob´s por ali mesmo junto com os papelotes e as camisinhas... ahhhhhh! a escuridão volta a tomar conta do texto! afaste-se de mim! quero sim escrever como um alienado e me esquecer de tudo de ruim que acontece! quero de volta a luz e a inocência da infância quando tudo parece mágico e dentro de um desenho de uma caixa quero enxergar de novo a ovelha lá dentro... curiosidade mágica que aguça os sentidos! o que estará atrás daquela esquina? e minha pupila dilata e meu coração pula e tchan tchan tchan!!! nada de mais, apensas mais uma rua... ha! mas o que importou foi aquele mágico momento da descoberta! como um beijo ainda desconhecido e um cheiro ainda não sentido. paro. me deu agora aquele divino vazio cheio de graças calmo como um lago sem vento a refletir o céu e em sua superfície somente os insetos a desenhar e eu o apreciador passivo dessa peça viva que é a vida!

4 comentários:

Anônimo disse...

Você tem a alma profunda, Gabriel... você é o artista da família...e está vivo!O texto é muito bom.Estou meio triste e acordei pensando em você.E vim aqui e vi tudo isso e me emocionei e chorei e senti mais saudades ainda.Gostaria de ter um neto.Um neto seu.Tenho pensado em como preciso viver,em como vivo sonhando,imaginando...estou sempre dentro daquilo que imagino.E o que você imaginou hoje é totalmente você.O melhor de você.Eu não preciso mais dizer que gosto de você,graças a Deus.Acordei pensando que estava precisnado de você.E vim aqui e vi essa maravilha.Alguma vez você pensou que precisava de mim?Sabe,a nossa estória é a estória mais bonita. Não pelos fatos (muitas vezes horríveis) mas pelo sentimento que ela engendra.Vou parar por aqui.tchau

Anônimo disse...

Muito querido Gabrié! Sua alma tem brilho! E o que você transmite também! Te amo sempre!

Anônimo disse...

mãe é mãe
pai é pai
viado é viado
e macaco é macaco

Unknown disse...

Um sábio disse: "O que quero são músculos de ferro e nervos de aço, dentro dos quais more a mente constituída do mesmo material de que é feito o ráio"