segunda-feira, agosto 29, 2005

ser humano

enquanto vida, permaneço inerte enquanto espírito. vejo milhões de pessoas no metrô que nunca mais verei de novo. e todos com suores e preocupações em suas testas. bípedes destruindo sem dó. vivendo o imediato. o instante já! vrummmmmmmmmm e meu carro a gasolina queimou fósseis de milhões de anos. scraaaashhhhhhh e meu casaco de pele escalpelou 509 chinchilas vivas, mas que se foda! a esposa do anfitrião da festa vai babar de inveja. e sorrisos! e viva a revista caras! caras e bocas e bundas! sim as bundas! somos uma sociedade culturalmente viciada em bundas. mas não é da bunda que vem o amor. não é só a bunda que te dá tesão! mas vamos: em marcha! todos os dias levantando peso. esculturando corpos. inutilizando cérebros. matando raciocínios. que isso ... vamos viver! mas enquanto vida, (continuo falando para ninguem ouvir) continuo inerte enquanto espírito. ahhhhhhhhh!!!!!! digamos então qual a solução: amar!!!! amar a quem? a minha imagem no espelho? ao mendigo na rua pedindo esmola? a deus? jesus? ou simplesmente amar ... encho os pulmões e digo em alto e bom som que somente meu silêncio escutará: Amor! e digo pra dentro: tão pra dentro que acaba implodindo como um big-bang. não foi o amor o início de tudo? e também o seu fim? não quero a resposta. quero o silêncio que vem depois das perguntas (obrigado clarice lispector). à reflexão! isso! reflito a minha imagem no lago e pergunto: para onde evoluímos? fiquei por milênios correndo atrás de meu próprio rabo e não consegui até agora ser realmente humano: viver com o universo inteiro dia após dia dentro de si! isso é ser humano. conseguir matar estrelas, vê-las sendo sugadas por um buraco negro e nada poder fazer ... admirá-las surgindo, nascendo, se multiplicando e se apagando. e aqui nessa partícula cósmica damos demasiada importância a nós mesmos. nos privamos de sermos felizes com pouco pois no fundo no fundo, o que importa? somos pequeninas microscópicas partículazinhas num vasto universo de acende apaga. agora está aceso. depois, apagou. aí então enquanto vida serei livre enquanto espírito.

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