terça-feira, agosto 09, 2005

caçador de raras borboletas

outro dia pensei e sempre penso: as pessoas andando no centro da cidade conseguem por entre os prédios enxergar o céu azul?
um dia andando pela cinelândia com um cara do meu trabalho vimos um camelô vendendo uns óculos e paramos para dar uma olhada neles. ficamos brincando experimentando uns óculos abelhões rosas mas não gostei de nenhum. brincamos com o cara e depois falamos "desculpe pelas brincadeiras e obrigado, mas tamo sem grana" e ele respondeu: "é tudo nosso!".
eu parei.
pancadão.
fiquei em estado autista por alguns momentos pelo centro da cidade. jamais esperaria de uma simples caminhada para comer um salgado pelo centro da cidade ser bombardeado por uma frase de tamanha profundidade. passei a ver todos os paletós e todas as madames e todos os carros e todos os bancos e toda matéria como sendo poeira a ser levada pelo vento. a frase "tudo que é sólido desmancha no ar" me veio a cabeça tao quao uma verdade incontestável. um axioma inquestionável! FIAT LUX! me achei um merda mesquinho. e fiquei até agora impressionado com a sabedoria implícita naquela simples frase dita por um humilde vendedor de óculos. o cara disse tudo e ainda bem que consegui escutar naquela frase sabedorias milenares budistas e marxistas. ainda bem que eu estava aberto e vivo! e poderia ter passado despercebido mas não passou! captei aquela mensagem no ar como um caçador de borboletas raras perdidas na selva de pedra.

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