terça-feira, agosto 30, 2005

A incrível arte de ressucitar defuntos 2

mais um dia!!!!
vamos, levante moribundo! em marcha, ande!
(shhcleck - chicote açoitando)
ande logo, carregue seu fardo, e agradeça por estar leve demais.
(shhcleck - chicote açoitando)
e agradeça por estar vivo.
(shhcleck - chicote açoitando)
e agradeça por ter o que tens.
(shhcleck - chicote açoitando)
e agradeça pela saúde que tens.
(shhcleck - chicote açoitando)
e agradeça pelos poucos e preciosos amigos que tens.
(shhcleck - chicote açoitando)
e agradeça pela família que tens.
(shhcleck - chicote açoitando)
e agradeça pela incrível capacidade de conseguir hoje enxergar as cores nesse dia completamente cinza.
(shhhhhhhhhcleckssssssssssss - múltiplos chicotes açoitando ensandecidamente com gargalhadas extraordinárias)
e se não gostou vai entrar na porrada!!!!

Ser humano

A questão "O que é o ser humano?" é A pergunta por exelência. A maior e única pergunta filosófica autêntica, a que realmente importa ser feita. Quem sou eu? O que é o ser humano? Qualquer indagação filosófica que não concerna esta pergunta não me interessa. É óbvio que não darei a resposta. Mas ainda assim, tecerei algumas considerações.
O que define o ser humano? O que seria o Ser do ser humano? Animal racional? Animal político? Homo sapiens? Acho que a definição menos pior é homo religiosos.
Bem, talvez eu não devesse tratar deste tema como uma dissertação, um tratado filosófico. Talvez, o melhor seria falar livremente sobre o que me vem a mente quando penso nestas palavras: SER HUMANO. O que acho que estou querendo dizer é: Não espere aqui uma definição, mas uma divagação. Sem mais delongas, vejamos.
Poderia começar analisando históricamente o ser humano, mas não acredito que esta seja a melhor abordagem. Até porque, não quero adentrar nem participar do ponto de vista científico desta pergunta, pois a ciência destrói o ser humano. Ela nos faz acreditar que somos animais que evoluíram do macaco, átomos frutos do mero acaso, seres para a morte e toda esta merda que só traz desespero e frustração, que habitamos um planetinha de merda no meio deste universo gigantesco, etc, etc, etc. Assim, passemos para outra visada.
Não sei qual é a verdadeira natureza do ser humano, mas não quero pensar o que todos querem que eu pense. Tenho uma dúvida que carrego desde que me entendo por ser humano. A pergunta é: Será que eu estou bem configurado? eu explico. Já viram aquele filme Matrix? Pois então. Talvez eu tenha algum erro de configuração, alguma falha na matrix que me impede de viver a vida confortávelmente, como um animal, como um suíno que pode ser considerado feliz quando encontra pasto para comer. Ou então, o ser humano é isso mesmo. Um ser que está sempre divagando, que está sempre se perguntando se não estaria melhor de outro jeito e nunca está satisfeito com o quinhão que lhe cabe. Sócrates uma vez afirmou que uma vida sem indagações não vale a pena ser vivida. Será? Talvez, se ele estiver certo, minha vida vale a pena, pois o que mais faço na vida é me indagar. Indagar se o que faco tem algum sentido, se estou vivendo minha vida plenamente, se estou acordado ou dormindo... Enfim...não é a toa que me formei em filosofia. Mas voltando, talvez eu esteja mal configurado. Um professor de Filosofia uma vez disse que os filósofos tem algum defeito genético que faz com que eles fiquem vendo problemas gigantescos onde a maioria das pessoas não vêem nenhum. É uma boa explicação.
Mas o problema continua. O que é o ser humano? Se eu estiver certo, e Sócrates errado (pretensão? Foda-se, o filósofo aqui sou eu porra), a verdadeira natureza do ser humano é não indagar. Por isso que buda afirmou que o homem comum é quase igual ao sábio. Mas enquanto o homem comum não indaga porque está conformado com sua natureza, não acha nada absurdo estar vivo, como se a vida não fosse espantosa, o sábio por outro lado, sabe o quanto a vida é um milagre mas não é tão estupido a ponto de ficar pensando e se indagando e sempre duvidando se o que vê é ilusão ou não. Ele sabe que tudo é ilusão! E assim, ele percebe que tudo o que vê tem como natureza fundamental a impermanência, mas sabe também que possui uma natureza eterna, em comunhão com Deus.
Acredito que ainda não alcancei minha verdadeira natureza, pois não consigo ver as coisas como elas são. Os objetos, pessoas, enfim, tudo o que vejo está contaminado com minhas crenças, minhas projeções, etc e tal. Tenho o vislumbre de uma natureza essencial do ser humano que transcende tudo o que vejo, como se eu estivesse dormindo ainda. A verdadeira natureza do ser humano é o amor. É a abertura para todos os seres e tudo o que está em sua volta, sem o obstáculo do ego. Neste estado que não sei se é mental ou não, os budistas acreditam em uma não mente, mas enfim. Neste estado, o ser humano percebe que o seu eu nem o de ninguém tem essencia, e se abre para o todo, para Deus. É aí que se pode vislumbrar a verdadeira natureza do ser humano, que é comunhão com o todo, com todos os seres. É aí que se pode amar e compreender a verdade. Mas chega de filosofia. Já me encheu, e talvez já te encheu também, querido leitor. Agora quero falar poeticamente, livremente, sem conceitos ou argumentos dogmáticos ou não. Chega!
...bem...O ser humano é sofrimento. Isso é fato. O ser humano é patético, o ser humano é odiável, o ser humano é paradoxal e contraditório, e por isso, o ser humano é humano. HA! EUREKA! O ser humano é odiável e amável ao mesmo tempo. É luz e sombra. É Deus e Diabo na terra do sol. É noite e chuva. É frio e quente. É bom e mal. É tudo e nada. O ser humano é um conjunto de opostos, é tudo o que os filósofos e religiosos e poetas e escritores e trabalhadores e operários e todas as pessoas já disseram! O ser humano é tudo. Não dá para falar de qualquer coisa sem estar falando do ser humano. Qualquer coisa que eu fale, estará diretamente ou indiretamente ligado ao problema do que é o ser humano. Enfim, eu podia falar sobre qualquer coisa que estaria falando deste tema específico: SER HUMANO! Mas o destino ou o que quer que seja quis que eu falasse tudo o que falei até agora. Agora, cabe a você julgar o que escrevi. Ou não.

segunda-feira, agosto 29, 2005

ser humano

enquanto vida, permaneço inerte enquanto espírito. vejo milhões de pessoas no metrô que nunca mais verei de novo. e todos com suores e preocupações em suas testas. bípedes destruindo sem dó. vivendo o imediato. o instante já! vrummmmmmmmmm e meu carro a gasolina queimou fósseis de milhões de anos. scraaaashhhhhhh e meu casaco de pele escalpelou 509 chinchilas vivas, mas que se foda! a esposa do anfitrião da festa vai babar de inveja. e sorrisos! e viva a revista caras! caras e bocas e bundas! sim as bundas! somos uma sociedade culturalmente viciada em bundas. mas não é da bunda que vem o amor. não é só a bunda que te dá tesão! mas vamos: em marcha! todos os dias levantando peso. esculturando corpos. inutilizando cérebros. matando raciocínios. que isso ... vamos viver! mas enquanto vida, (continuo falando para ninguem ouvir) continuo inerte enquanto espírito. ahhhhhhhhh!!!!!! digamos então qual a solução: amar!!!! amar a quem? a minha imagem no espelho? ao mendigo na rua pedindo esmola? a deus? jesus? ou simplesmente amar ... encho os pulmões e digo em alto e bom som que somente meu silêncio escutará: Amor! e digo pra dentro: tão pra dentro que acaba implodindo como um big-bang. não foi o amor o início de tudo? e também o seu fim? não quero a resposta. quero o silêncio que vem depois das perguntas (obrigado clarice lispector). à reflexão! isso! reflito a minha imagem no lago e pergunto: para onde evoluímos? fiquei por milênios correndo atrás de meu próprio rabo e não consegui até agora ser realmente humano: viver com o universo inteiro dia após dia dentro de si! isso é ser humano. conseguir matar estrelas, vê-las sendo sugadas por um buraco negro e nada poder fazer ... admirá-las surgindo, nascendo, se multiplicando e se apagando. e aqui nessa partícula cósmica damos demasiada importância a nós mesmos. nos privamos de sermos felizes com pouco pois no fundo no fundo, o que importa? somos pequeninas microscópicas partículazinhas num vasto universo de acende apaga. agora está aceso. depois, apagou. aí então enquanto vida serei livre enquanto espírito.

quinta-feira, agosto 18, 2005

Orgulho de ser humano

VIVA A RAÇA HUMANA !!! VIVA A TECNOLOGIA !!!! VIVA A EDUCAÇÃO !!!!! VIVA A CIÊNCIA !!!!! VIVA A EVOLUÇÃO DO CAPITAL HUMANO !!!!

http://www.strasbourgcurieux.com/fourrure/portugues.php

segunda-feira, agosto 15, 2005

O grito

Kurosawa está acumulando energia para a grande virada, para o momento do grande GRITO!... Um grito que se parece com um alimento que ele mesmo ingeriu para não fazer desfeita e não desagradar o "anfitrião", ainda que soubesse que, mais cedo ou mais tarde, lhe daria indigestão. Mas o alimento nunca foi digerido, está tomando forma em seu estômago, esperando o momento do vômito iminente que virá, certamente virá. Mas quando? Talvez quando não aguentar mais, pois sempre fez de tudo para evitar a dor que sente ao vomitar, ele odeia vomitar, venderia sua alma ao diabo para não o fazer, mas no fundo, sabe que não iria entregá-la no final. Ele espera. Espera e se concentra, para não sucumbir às reviravoltas do estômago. Respira fundo. Fica quietinho, olhando para o horizonte. A dor do vômito é horrível, mas o pior é o hesitar, a espera, "como se" pudesse evitar a catástrofe. - Deve haver outro jeito...
Não há. O jeito é vomitar. Ele SABE que tudo melhora depois, mas mesmo assim, ele espera. Espera a hora certa, onde o estômago expulsa a comida com grande energia e não deixa alternativa, a não ser vomitar. Não há muita energia ainda.
Mas ela virá.

sexta-feira, agosto 12, 2005

Soul Sol

kurosawa não sabe o que fazer. não sabe se viaja. não sabe se fica. não sabe se trabalha. não sabe se não trabalha. não sabe se sabe ou se não sabe. está numa situação confortável para olhos de fora. mas só com seus próprios olhos poderíamos ver o que seu coração sente.
- ah ele é um um "bon vivant"! - dizem uns. outros dizem: "ele tem aquele olhar blasê. despreza tudo e todos". outros até dizem: - "é antipático!".
por trás daqueles verdes olhos supostamente perdidos poucos conseguem enxergar a profundidade do mar sem fim. um desbravador dos abismos dos sete mares.
"Há mais mistérios entre o céu e o mar do que pode imaginar a nossa vã filosofia" e lá vai o nosso mergulhador pronto a desbravar esses mistérios. ele sabe! sim ele sabe o que quer! tem absoluta certeza do que quer! mas teme. o temor toma conta dele e amedrontado ele volta para o sótão. lá naquele sótão sombrio ele fica fazendo companhia aos fantasmas jogando xadrez ou ouvindo seus lamentos. vez ou outra os habitantes da casa passam comida por baixo da porta. outras vezes um livro. as vezes durante a noite escutam soluços e pela manhã escada abaixo lágrimas escorrem. ele sempre espera a hora em que seu pai vai chamá-lo para pescar. mas do sotão ele sempre vê pela janela seu pai pescando sozinho. no sótão virou mestre nas artes da telepatia, adivinhação e da compreensão mas acabou por apagar seu coração. um dia cansado da escuridão e não suportando mais o frio ele abriu a janela, e usando a técnica que aprendeu sozinho em livros de yoga de encher os pulmões, os encheu com todo o átma e ar que conseguiu captar e berrou para todos escutar, inclusive seu pai que lá estava no barco no meio do rio: "de hoje em diante não me chamem mais de mergulhador das profundezas! cansei de viver na escuridão! não vim aqui para ficar conversando com fantasmas e vampiros! vim aqui para iluminar a todos e me alimentar com minha própria luz! de hoje em diante sou hélio: o gás nobre! de hoje em diante me chamem de hélio: o deus sol!".

terça-feira, agosto 09, 2005

caçador de raras borboletas

outro dia pensei e sempre penso: as pessoas andando no centro da cidade conseguem por entre os prédios enxergar o céu azul?
um dia andando pela cinelândia com um cara do meu trabalho vimos um camelô vendendo uns óculos e paramos para dar uma olhada neles. ficamos brincando experimentando uns óculos abelhões rosas mas não gostei de nenhum. brincamos com o cara e depois falamos "desculpe pelas brincadeiras e obrigado, mas tamo sem grana" e ele respondeu: "é tudo nosso!".
eu parei.
pancadão.
fiquei em estado autista por alguns momentos pelo centro da cidade. jamais esperaria de uma simples caminhada para comer um salgado pelo centro da cidade ser bombardeado por uma frase de tamanha profundidade. passei a ver todos os paletós e todas as madames e todos os carros e todos os bancos e toda matéria como sendo poeira a ser levada pelo vento. a frase "tudo que é sólido desmancha no ar" me veio a cabeça tao quao uma verdade incontestável. um axioma inquestionável! FIAT LUX! me achei um merda mesquinho. e fiquei até agora impressionado com a sabedoria implícita naquela simples frase dita por um humilde vendedor de óculos. o cara disse tudo e ainda bem que consegui escutar naquela frase sabedorias milenares budistas e marxistas. ainda bem que eu estava aberto e vivo! e poderia ter passado despercebido mas não passou! captei aquela mensagem no ar como um caçador de borboletas raras perdidas na selva de pedra.

sexta-feira, agosto 05, 2005

Reflexo

Devo mergulhar mais fundo? Não havendo qualquer tipo de reação, tentemos outra vez.

Nosso protagonista, que andava meio grilado, logo retoma o rumo de sua vida, e não presta mais tanta atenção aos grilos. Agora ele vive sua vida um dia de cada vez, e todo dia vai dormir quase em paz. Os grilos já não cantam mais tão alto. A vida passa e todo interior está frio e cinzento. Apaziguado. Um silêncio calmo reverbera pelos cantos de sua casa e nosso protagonista decide voltar ao quarto do cotidiano, o único cômodo da casa que contém espelhos. Espelhos que refletem sua imagem, sua alma, suas fechaduras e respectivas chaves. Mas ao invés de uma só imagem, para ele, cada espelho parece refletir diferentes faces de si mesmo, reflexos tão reais e diversos, que nosso protagonista chega ao ponto de achar que se trata de outras pessoas, e não dele mesmo. Em um dos espelhos, nosso protagonista vê seu pai, no outro, sua mãe, e por aí vai...padrasto, amigos, mulheres de sua vida, monstros, anjos, santos e deuses. Ele fica tanto tempo no quarto, que começa a se relacionar com as imagens, acreditando serem entes reais (isso porque ele ainda acredita que aparência e realidade são coisas completamente diferentes, e não sabe que o virtual é tão real quanto a realidade). Logo se esquece que todos os espelhos refletem somente a si mesmo e passa assim a julgar, discordar, ignorar e dissociar de si mesmo os reflexos que não lhe agradam. Assim, separa seu eu do resto do mundo e fica só. Mas ainda assim, ele tenta de todas as maneiras se relacionar, manter seus relacionamentos controlados e agradáveis, mas invariavelmente falha. E volta a ficar só. Assim ele vai, até chegar ao ponto de desistir e ficar sozinho. - Chega! Não aguento mais essas pessoas que só me fazem mal. Vou ficar sozinho, não é essa a natureza última do ser humano? Assim, nosso protagonista fica só. Mas a história não acaba por aí. Em um dado momento, depois de passar por toda a solidão, ele fica com sede de amor e decide entrar no poço escuro que se encontra no meio do quarto do cotidiano a procura de água que saceie toda sua sede. Em sua determinação, ele pula sem pensar e vai de cabeça no fundo do poço e desmaia. Ao acordar, se dá conta de que a água está quase acabando, e no reflexo da água, vê novamente seu reflexo. O poço está quase seco, de tantas vezes que foi lá retirar água. Assim, nosso protagonista resolve escalar de volta. Ele chega no topo rapidamente e se vê de novo no quarto do cotidiano. Ao se voltar novamente para os espelhos, lembra-se que aquelas imagens refletem unicamente a si mesmo. E sorri. Sorri para todas as imagens e, consequentemente, para si mesmo. E faz as pazes com todos os aspectos de seu próprio ser. Ele enfim se dá conta que, no fundo, só há relacionamentos consigo mesmo, e passa a dar valor ao que é refletido, mas somente como sendo parte de si mesmo. Finalmente se dá conta de que todo reflexo apenas projeta sua própria imagem, e que deve se relacionar, não tanto com as pessoas, mas com o que elas despertam em si.

Assim como o quarto de espelhos, este texto, e todos os outros, são uma projeção, não da vida de nosso protagonista ou qualquer outro leitor, mas de quem o escreve, e assim, não há porque se relacionar com o texto, mas com o que é despertado em sí.