sexta-feira, setembro 23, 2005

música

queria escrever som! que cada tecla fosse como um batuque de samba numa mesa de bar. como tambores indianos fumegantes de incenso. como música clássica envolta pelas eletrônicas batidas de moby a passar por sobre a estrada do joá indo pra barra da tijuca observando o mar: - o cheiro da maresia de um dia nublado. queria não ser influenciado por nenhum escritor e por nada que já tivesse lido. mas estou impregnado por tudo que já passei. por cada rótulo de cigarro, por cada tubo de pasta de dente, por cada outdoor, jornais, revistas, comerciais, cartazes de shows. pelas letras de funks e pelas canções nordestinas. cordel! ouça: os tiros de lampião e o som das cabeças cortadas pela lâmina enferrujada. o som da chacina do paraiso de antonio conselheiro: saraivada de balas e o som dos canhões - gritos, choros, chamas e salvas de palmas e urros de vitória - viva o rei! roberto carlos, eu sou terrível! o tambor a dar o ritmo dos navios vikings: hup, hup, hup! os gritos de horror e de raiva da preparação para a guerra! o som do coração a mil por hora e o olhar em fúria, e o ranger dos dentes, o som das águas do mar sendo cortadas como por uma lâmina pelo casco da embarcação. e mais ao sul o mesmo tambor a dar o ritmo dos navios negreiros, um ritmo mais lento, mais lamentoso, mais carregado e, ao invés de urros de fúria, choros e lágrimas e chicotes e o som de uma sessão de umbanda! o som de um batuque de negros - candomblé: dança, dança, dança! e batuques, atabaques, ôgams, incensos, defumadores e capoeira! muita capoeira, pandeiro e berimbau ! diq dum dum, diq dum dum, diq dum dum... e os pés passam em volta dos meus ouvidos como um zunido de bala, e o som das pernas ao ar, o sincronismo perfeito do corpo com pêndulos e sons e transe e etc e tal. e no metrô escuto no som dos vagões o som de antigas locomotivas se perpetuando por minas gerais. e a fumaça negra contrastando com o céu azul e o verde das colinas. ah! ontem na cinelância em frente a câmara, tinham alunos da escola de circo fazendo palhaçadas ao som de hermeto pascoal, e atrás os grevistas dos correios com a faixa segurada com desdem - estavam enfeitiçados pelo espetáculo. logo depois o som de um galope nordestino e forró e meu deus como sou grato por isso! o som! o som dos passos de tênis em um prédio aonde acabaram de encerar o chão e a borracha irritando pelos longinquos corredores. as unhas por cortar arranhando um quadro negro. um prego arranhando um vidro. bolinha de plástico rangendo nos dentes. isopor arrastando um no outro. as unhas no ferro do elevador... ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh que nervoso!!!!!!!!!! ugi ugi ugi gagagaag ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!!!!!! arrepios e é tudo som! vozes e mais vozes e mais vozes se multiplicando na acústica de um bar com os ânimos exaltados pela cerveja, vodka, caipirinha, caipivodka e mais ânimos e mais quem quer chamar mais atenção e mais egos e mais besteiras e mais filosofia de buteco e politica - a fofoca dos intelectuais - e poesia e eu te amo e eu te odeio e bla bla bla e som na caixa e ninguem mais entende nada e um som uníssono é percebido permeando todos os sons que só os mais atentos quase ninguém que neste momento já se desligaram de todos e ao mesmo tempo conectaram em todos e ohmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm..................................... o som das águas.
o som das águas em um rio batendo suavemente nas pedras. um pássaro: - piu!
o silêncio. um zumbido de um zangão! o mover-se suave com medo de quebrar algo - de tão frágil que parece tudo a minha volta.
o vento suavemente sobre as folhas. o balançar suave das copas das árvores.
só consigo compreender o som depois de compreender o silêncio...

Um comentário:

Anônimo disse...

Adoro a expressão saraivada de balas...como é que o DUDU sacou que era eu o anônimo?Filho da puta esse cara!Gostei dele.Vou colar "os grilos" no meu blog