quarta-feira, março 28, 2007
Pouso forçado
O avião está caindo e não há ninguém na cabine de comando. Mas os passageiros não sabem disso - como tu, aliás -, e de repente - olha que coisa! -, de repente ficam preocupados com suas vidinhas, mas nenhum deles faz a menor idéia de como pilotar aquele ser grotesco e monstruoso e muito menos sabe como funcionam as engrenagens e mecanismos complexos daquela máquina infernal, indiferente aos uivos e lamentações (como toda máquina, aliás), seguindo seu rumo em direção à destruição total e completa. Não há nada a fazer, apenas aceitar o destino. Mas eles não aceitam. Alguns rezam, gritam e invocam santos, outros, em silêncioso desespero, seguram seu pequeno coração. Apenas um deles permanece calmamente sentado em sua poltrona e come seu jantar. Menu de bordo: língua ao molho madeira acompanhada de arroz branco e vinho chileno. Após o banquete, satisfeito, o senhor limpa os lábios com um guardanapo, fecha a mesinha na poltrona da frente e ajeita o cobertor. Permanece o tempo todo sereno, sem pensar em nada, apenas presente no momento presente. A senhora ao seu lado (uma das adeptas do desespero educado), toma um susto quando olha para o lado, pois só agora repara em suas vestes: uniforme de comandante e cap. Histérica ela grita: "Mas você não é o piloto?". O senhor calmamente vira o rosto, olha a velinha nos olhos e diz: "Não existe nenhum piloto". E sorri. Vira o rosto para o lado, fecha os olhos e dorme um sono sem sonhos.
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