domingo, maio 15, 2005

Família

Família, o porto seguro de qualquer ser humano. Onde há amor sem limites, onde todos se ajudam, onde o que importa é o bem estar geral. Onde nos sentimos seguros e confortáveis. Onde podemos falar tudo o que vem a nossa cabeça, sem medo de que seja mal interpretado, sem que possamos perder nosso emprego, amizade ou posição. Mas e se não existe nada disso? O que é a família então? Darei assim um exemplo bem particular dessa organização social humana, a minha própria família.
Aqui, se há amor, trata-se de algo raro. Algo que quase nunca se vê. Se há, realmente não duvido, mas é visto como algo a se esconder, no fundo do porão, onde ninguém possa ver, e onde raramente lembramos que existe. O amor é guardado numa caixa lá no fundo, embaixo das caixas que contém tudo o que não tem a menor utilidade. Aqui, o que importa é o bem estar superficial. Se para aqueles que aparecem de vez em quando, e quando aparecem, me tranco no quarto e leio meu jornal, estiver tudo em harmonia,não há porque se preocupar. Estamos bem. Maravilhosamente bem!!
Família. Serão todas assim? Cheio de gente estranha que mal se conhece, que tem medo de conversar, que se irritam quando invadem seu espaço privado, como se estivessem virando de avesso sua própria alma? Se é assim uma família normal, tenho uma família feliz. Onde padrões familiares se repetem, de pai para filho, de mulher para homem, de homem para mulher, de pessoa para pessoa, perpetuando o mesmo erro, através de gerações e gerações, tornando a vida algo digno de ser amaldiçoado. Louvada seja a minha família! Onde tudo o que você quer, nunca se concretiza, e parece mesmo um crime hediondo.Onde cada tentativa de mudar as coisas é fadada ao fracasso antes mesmo de começar. Onde se vê que dinheiro não traz felicidade. Onde cada membro permanece sozinho e triste, como se estivesse isolado num deserto. Onde tudo e todos no fim são apenas tijolos que contribuem para a grande muralha, a grande prisão para qualquer afeto ou amor. Ainda bem que tenho minha família. Pois se tivesse nascido em outro lugar, talvez poderia ser feliz.

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