terça-feira, janeiro 17, 2006

Intro

Só me lembro da paulada no crânio e todos os miolos do garoto espatifados naquela estradinha de terra.

O sol a tino. Estradinhas de terra batida. Fervendo. Poeira, garotos pobres de bermuda e funcionários de mangas de camisa. Era uma vila de moradores comuns, composta de casas de tijolos a mostra e botequins de família. Lembro também de garotos soltando pipa e de mulheres de verdade marcadas pela realidade. Sem tirar nem pôr. Aquilo eram mulheres de verdade. Não essas putinhas de família daqui.

O rapaz estava morto. A vida continua. A realidade continua. Inabalável. A mente continua a projetar o mundo em que me encontro. Se é por vontade minha eu não sei. O que sei é que o mundo ainda está aí. Ou melhor, aqui. Dentro da minha cabeça. Os miolos dele estavam no chão. Sua alma não parecia estar alí. Que merda. A dor de cabeça continua. Talvez fosse melhor explodir minha cabeça também.

Puta tragédia. Este rapaz devia ser querido por aqui. Mulheres chorando. Talvez o garoto tivesse muitas mães. Coitado. Melhor assim.

O problema não era o garoto. Disso eu me dei conta logo depois que ele morreu e nada mudou. Fiquei sem fazer a barba por dois dias, procurando por algo verdadeiro nas favelas e conjuntos habitacionais. Agora não quero mais encontrar. Acho que vou desistir desta merda.

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