personagens:
gabriel - analista de sistemas, escalador, burguês e yuppie existencialista.
rosinha - empregada doméstica.
renata - namorada do gabriel, professora de pilates e fisioterapeuta.
bruno - fotógrafo, amigo e vizinho do gabriel
rafael - auditor e escalador amigo do gabriel.
antonio - pai de gabriel, não trabalha, maluco e alcólatra.
mãe da síndica - aposentada, surda e chata.
uma introdução:
rosinha veio da paraíba, se casou, não tem filhos e mora na comunidade do complexo do alemão em jacarezinho. toda sexta ela pega o trem e salta na leopoldina deonde pega o 460 e salta na lagoa para ir até a casa de gabriel, no jardim botanico, trabalhar como diarista. as obrigações diárias dela consistem em passar roupa, dar uma geral na casa e fazer uma quantidade razoável de comida que dure uma semana. às vezes, também, vai ao supermercado quando gabriel está com preguiça de fazer as compras, mas o supermercado é perto, fica a menos de dois quarteirões da casa dele. ela chega as 9 da manha e sai por volta das 4 da tarde. gabriel gosta muito dela e de sua comida, não a explora, não dá ordens e apesar dela não ter carteira assinada, ele procura sempre no final de ano dar um bom agrado a ela. bem ... horário flexivel, conversas amigáveis, liberdade ... gabriel se acha um cara bondoso.
a história desinteressante:
(8:30 da manhã e gabriel ainda deitado na cama e rosinha abrindo a porta de casa)
rosinha: "gabiiiiiiii!!"
gabriel: "ôôôôôôôôôôôba"
rosinha: "bom dia!"
gabriel: "bom dia!"
(silêncio. gabriel ainda deitado na cama olhando para o teto. rosinha vai até a área e pega as camisas sociais no varal para passar.)
gabriel: "rosinha, vai lá trabalhar pra mim."
rosinha: "mas eu não sei fazer o que você faz."
gabriel: "é só ligar o computador e ficar olhando pra tela que tá tudo bem"
rosinha: "é isso que você faz é?"
gabriel: "é"
(gabriel continua deitado na cama olhando pro teto)
rosinha em tom de reprovação: "levanta da cama! vai! tanta gente procurando emprego por ai e você ai resmugando!"
(gabriel rapidamente se levanta da cama e vai fazer compras no supermercado. compra batata baroa pra fazer purê, cenoura para fazer cozida, frango, farinha de trigo e peito de frango para fazer dois empadões de frango e 4 latas de leite moça para fazer doce leite na panela de pressão. [sabiam disso? é bonzão - você coloca as latas na panela de pressão com água cobrindo elas e depois que começa a apitar deixe por 40 minutos. pronto! e temos o mais maravilhoso doce de leite!] gabriel diz que o empadão da rosinha é algo fabuloso. ele mandou fazer dois porque foi aniversario de um amigo dele, o basa, que mora um andar acima de sua casa e gabriel resolveu dar um empadão e duas latas de doce de leite de presente de aniversário para ele que se amarra no empadão da rosinha e se amarrou no esquema do doce de leite que ele não conhecia. gabriel chegou em casa e rosinha disse que o telefone celular tinha tocado e que tinha ligado uma moça pro telefone comum dizendo que o paciente antonio estava solicitando sua visita à clínica de recuperação. gabriel ficou resmungando e foi ver quem tinha ligado pro celular e ligou de volta.)
gabriel: coeh rapá
rafael: fala bilbo
gabriel: diga
rafael: mermão, que parada foi aquela que tu me arrumou?????
gabriel: é cara!!! mó onda!!!! UHAhuahuaUHaUHuhahuauhAhuaHUaUH
rafael: dei um doizinho sentado na privada antes de tomar banho e fui ficando estranho, estranho e depois do banho fui fazer meu alongamento e depois durmi que nem um buda!!!!!
gabriel: HUAuhaUhaUHaUHhuahuauhaUHAUHuhAuha
rafael: vamo almoçar hj?
gabriel: só se for tarde, estou atrasadão pro trabalho... já vou chegar tardão lá...
rafael: blz, me liga.
gabriel: valeu, abração
(gabriel foi tomar banho. no banho se lembrou do sonho que teve com a renata que apesar de não se lembrar, ficou um sentimento estranho de mal estar - era um sentimento de rejeição. ao sair do banho ligou para ela)
gabriel: oi
renata: oi
gabriel: po tive um sonho estranhao com vocÊ
renata: q q vc sonhou?
gabriel: não lembro ... mas lembro do sentimento ruim que ficou
renata: qual foi?
gabriel: um sentimento de rejeição
renata: ah .. não fica assim não!!! eu nunca te rejeitaria!!!
gabriel: show
renata: vem aqui pra casa de noite
gabriel: demorô
renata: bjos bjos
gabriel: vários bjoss
(gabriel ficou tranquilo, se arrumou pro trabalho e preparou a mochila porque no dia seguinte iria ter que trabalhar numa fábrica de armários de cozinha, que é um freelance que ele arrumou.
rosinha ainda estava passando roupa na sala e gabriel foi calçar o tênis sentado na escadinha que tem na porta que dá acesso a varanda.)
gabriel: "pô rosinha, chatão passar roupa né? tu tá ai a mó tempão."
rosinha: "é, não é o que eu mais gosto de fazer não..."
gabriel: "se meu chefe e nego lá no centro não se importasse com essa merda tu não taria ai de jeito nenhum"
rosinha rindo: "o que que deu em você hoje?? às vezes te dá essas esquisitices..."
(gabriel tomando seu café da manhã)
gabriel: rosinha.. vc se casou em igreja?
rosinha: sim
gabriel: quando eu for me casar não quero me casar em igreja não. se é que algum dia vou me casar.
rosinha: haha hoje vc está engraçado... meu marido não queria se casar em igreja não. pra ele tanto fazia. mas eu cheguei pra ele e falei: "se você não quizer casar em igreja vai arrumar outra. comigo vai ter que ser em igreja!" e ele pra não ter trabalho foi lá e se casou comigo mesmo ...
(depois de terminado o café, antonio ligou a cobrar pro seu celular)
gabriel: fala doença
antonio: fala verme!
gabriel: diga
antonio: os seguranças estão aqui entrando em todos os quartos revirando tudo - falou agitado
gabriel: hã? q q tah rolando ai?? ele tão fazendo o que??
antonio: nada, nada é só inspessão de rotina
gabriel: ah tah ... ah pai vc ligou a cobrar pro celular ... tah mal falar assim ... depois nos falamos
antonio: tah blz depois me liga
gabriel: falou!! bjos, tchau
antonio: bjos
(desejou bom final de semana a rosinha e saiu de casa. se encontrou com a mãe da síndica na porta alugando o motoqueiro da cipa. ela o parou e começou a falar:)
mãe da síndica: já viu isso? - falou apontando para a outra entrada do meu prédio com a porta aberta, para onde gabriel olhou e viu que tava o chão todo cagado com cocô de cachorro
gabriel: karaka
mãe da síndica: é cocô humano?
gabriel: acho que é de cachorro ...
mãe da síndica: curioso... só eu e o bruno temos cachorro...
gabriel: hummmmm
mãe da síndica: agora, quem vai limpar isso aqui? eu?
gabriel: é .... sei lá .... bem, vou indo
mãe da síndica: ....
(ela balbuciou algo que gabriel não escutou pois já tinha descido a rua. gabriel pensou se o basa, como tinha bebido horrores na noite anterior comemorando seu aniversário, não teria na madruga descido com o cão já desesperado pra cagar e se não teria cagado tudo...
gabriel foi e esperou o ônibus no ponto. como o primeiro ônibus que apareceu foi um daqueles frescões que vem da gávea em direção a praça mauá, gabriel pensou nos trÊs reais da passagem mas não exitou e pegou ele mesmo. também, ele se amarra numa mordomia e esse ônibus tem as poltronas confortáveis e o ar condicionado potente! gabriel entrou e se acomodou em sua poltrona, abriu a portinhola do vento e o direcionou diretamente para cima dele. abriu a mochila e pegou o livro que tinha comprado no dia anterior na feira de livros que tava tendo no largo do machado logo depois que saiu da terapia. o que mais chamou a sua atenção no livro foi o título "como mover o monte fuji?" - logo gabriel que adora esses koan's orientais. pediu o livro para dar uma olhada e viu que era um livro falando sobre as perguntas que são feitas durante as entrevistas para selecionar profissionais para a microsoft. tinha no livro perguntas de lógica, probalidade e koan's impossíveis! gabriel gostou, comprou e agora o estava tentando ler no conforto do ônibus indo pro trabalho. mas como é difícil para ele se concentrar em livros tendo um novo universo a sua frente vivo! - não é de costume ele pegar esse ônibus, geralmente ele pega os normais de 1,80 mesmo. ficou reparando no tipo de pessoas que pegam esse ônibus: uma senhora mais velha entrou e ficou de cara emburrada resmungando alguma coisa com o cartão do riocard na mão enquanto pegava o dinheiro na bolsa; logo depois entrou um coroa meio troglodita de cara emburrada e começou a discutir com outro porque o outro estava sentado lendo um jornal com as pernas cruzadas e o pé apontado para o corredor e o troglodita encostou a calça social no sapato do outro. o troglodita reclamou, resmungou, o outro ignorou e o troglodita saiu bufando esbarrando em todas as cadeiras e foi pro final do ônibus; mais uma figura entrou no ônibus, agora um senhor de uns 50 anos com várias tatuagens no braço, de bermudao e tÊnis e com aqueles brincos redondos vazados para alargar a orelha imitando índio que deixa um buraco enorme no lóbulo da orelha. gabriel suspirou e olhou para a parede colossal da face sul do corcovado e viu os fios de água escorrendo pela parede. se lembrou imediatamente do carnaval passado em que um amigo dele passou ali pendurado em uma via de escalada chamada oitavo passageiro. o ônibus continuava parando e as bonitas e arrumadas mulheres que entravam tinham o nariz empinado e cara de bunda, os homens eram cheios de marra e um baixo astral de energia completamente negativa rondava por ali. e no meio disso percebeu como em ônibus comuns as pessoas são diferentes daquelas, mais simples e mais sorridentes. não que seja uma regra mas o que se passou pela cabeça dele foi isso. conseguiu enfim ler o livro até passar em frente ao mam e saltou no ponto de costume no primeiro ponto da antonio carlos e foi andando para o predio aonde está trabalhando. suspirou fundo e entrou. disse bom dia a moça da portaria, pegou o adesivo, colocou na camisa e quando estava prestes a apertar o botao do elevador um senhor que estava lá no salão principal dos elevadores apertou antes para ele. gabriel agradeceu e o som que avisa que um elevador está chegando tocou. a porta abriu, e gabriel entrou. apertou o botaõ SL e se olhou no espelho para ver como a barba estava por fazer, a careca aumentando e a espinha na testa ainda não tinha secado - mais suspiros. a porta do elevador se abriu e ele bateu na porta de vidro que é presa por um imã. lá dentro é o cpd, aonde ficam todos os computadores da empresa aonde ele está trabalhando. o identificaram e abriram a porta. ele entrou e disse bom dia a todos e foi andando calmamente até sua cadeira, ligou o computador, sentou-se e começou a digitar esse texto totalmente desinteressante de um dia comum de uma vida comum.)
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