Aconteceu de novo! Socorro!
Estava de novo na mesma aula e quando escrevi a palavra "corresponde" eu me esqueci como escrevia e qual palavra estava escrevendo. Deu um blackout, um branco total no cérebro, me vi impotente em milésimos de segundo, porém, sozinhas, minhas mãos completaram a palavra sem a minha consciência!!! O que está acontecendo comigo? Estou tomando con[sciência ......]
Eu já tinha reparado certa vez que as coisas que você está acostumado a fazer tantas vezes fluem naturalmente sem você ter que pensar e reparar que as está fazendo. Já parou para pensar como sua letra sai estranha no papel e como os desenhos que são as letras, símbolos, foram impostos e incrustados na sua "educação" e agora você as faz sem saber porque e nem como?
Indo mais longe, você compra uma roupa sem saber porque. Acha que fazer 18 anos e dirigir vai mudar sua vida. São coisas que você faz impulsionado por uma força inconsciente. Algumas delas vem de você e outras vem de fora. De quem é aquela frase mesmo? "O homem nasce bom, a sociedade o corrompe". Esse "bom" está ligado a qual vertente da relatividade da palavra "bom"?
E se eu começar a escrever agora tudo que me vem à cabeça sem limites, sem regras, com a máxima rapidez que consigo escrever? Queria poder escrever bem mais rápido para poder colocar no papel o Pico do Papagaio, minhas andanças indo ao almoço observando a Pedra da Gávea, pisando no chão de terra, sentindo cheiro da grama me lembrando de Mauá e das maravilhosas visões que lá tive: A Queijaria do Seu Tatu que vende o queijo Pedra Selada que certa vez voltei de carona pra Resende no caminhão de leite com uma ex namorada minha chamada Camila que aliás só de pensar nela me dá tesão e vontade de chupar ela toda e apertar o seus seios. Dentro da minha casa ao lado da geladeira a cozinha está apagada. Essa noite sonhei com Daniel ele estava com uma máscara de borracha cheio de desenhos e eu zoei ele a vera. A máscara não cobria o rosto todo e era transparente. Os desenhos eram meio-tribais-meio-celtas - bem a cara do Daniel. A namorada dele estava ao lado rindo. Ele ajeitou a máscara escondendo as partes que pareciam aonde acabava. Acordei achando isso engraçado, eram 7:33 e eu tinha que acordar às 8:00 para ir pro trabalho. Fechei o olho e acordei já eram 8:00, saco! Vida medíocre!! Acordei de mau humor tomei banho gelado e fui pro ônibus. Ah, comi um mamão não muito maduro. Que delícia poder ir pro Tibet. Ficar andando vagando sem rumo no meio do nada no meio da neve, só completamente só nesse frio glacial, nesse mundo sem uma só viva alma. Queria conhecer os monges, conhecer lugares que desconheço. Saco! A aula! Foda-se a aula, o meu trabalho, minha vida! Quero no sábado acordar cedo e subir a pedra do sino só! Somente eu e as árvores e minha respiração e minhas passadas e os bichos e a terra e a grama e ar, ar, muito ar!! Aquele ar sem poluição, ar puro, ar natural e ver lá de cima toda Serra dos Órgãos, o Deus de Deus lá de cima e contemplar. Meus dedos estão começando a doer de tanto escrever. O professor falando de linux, o Vinicius aqui do lado lendo o que acabei de escrever na página passada, no passado passado mas que é tão atual, um pedaço de mim, um eu que vai indo em cada tinta derramada no papel. Aliás, esse papel aqui ara uma árvore!!! Nós somos os carrascos de nossas próprias vidas! Colocamos nossa cabeça na guilhotina e puxamos (soltamos) a corda. Meu triceps está doendo, meu braço também. Minhas mãos não respondem mais, queria continuar escrevendo mas acho que não vou conseguir... Melhorou agora, mudei de posição mas todas as coisas em que eu estava pensando se ligaram agora no barulho do ar-condicionado. Olha o meu estado: a aula rolando e eu fazendo auto-análise do meu cérebro. Escrevendo compulsivamente tudo que se passa em minha cabeça. O Vinicius aqui ao lado quis me passar a outra página dos meus escritos mas percebeu que eu estava em transe aqui e se eu parar aqui nunca mais. Nunca mais! Quero chorar! O mundo é meu mas estou preso!! Quero me soltar! Soltar as amarras, me livrar da prisão, sair do campo de prisioneiros! Da caverna!
Meu olho arde, horas no computador, dias no computador, até quando suportarei isso? Até quando suportarei o estilo de vida que levo? O que me resta são os planos do final de semana. Comprar equipamentos, roupas, coisas para minhas aventuras. Só isso que penso. No meu salário pra pagar a empregada, pagar as contas, comprar meu tênis. E é foda! Minha mãe e padrasto que estão pagando minha faculdade. Ah, quer saber? Já gastaram muita grana com cerveja... paguem minha faculdade mesmo. Egoista eu? Mundo-umbigo? Talvez... Mas, apesar de minhas crises de questão financeira, nunca estive tão bem!! E dizem que o dinheiro traz felicidade... burros!!!
Parei de escrever e fui andar pelo corredor. Eu estava acordado? O chão era chão? Meu andar eram pensamentos, as paredes eram ilusão, o mictório um cenário 3D. Estou acordado? Durmo? Qual a diferença do sonho e da realidade? Quando você tem uma polução noturna (entende-se gozar dormindo) mas ninguém o estava te tocando e nem você mesmo, que sentimentos e atividades mentais elétricas estão ocorrendo nesse momento? O chão estava curvo, as paredes caindo sobre mim. A perspectiva do mundo acabou. Estou salvo! Livre. Meus olhos vermelhos, empapuçados, parece que acabei de acordar!! Acordei? E se eu acordar como voltar para caverna? É óbvio que não acordei. Que pretensão. Ainda penso nas coisas materiais...
As sombras das luzes da sala de aula são crayons e grafite. O professor uma marionete. Os alunos folha de papel soltos ao vento. O ar-condicionado o motor. Chega! Para! Tenho que voltar! Acorde! Ponto final.